Que tal uma coleção inteira?

Você conhece esta artista  inglesa: Clarice Cliff? Esta semana pedi um livro sobre ela para uma pintora, a Ana Luísa e hoje vi que Nina Horta,  em sua coluna na Folha de São Paulo, citou a artista.

Pela coincidência, vou falar desta ceramista e designer:

Clarice Cliff nasceu em Janeiro de 1899 em Tunstall, Staffordshire e morreu em Newcastle-under-Lyme em Outubro de 1972. A quarta filha de oito crianças de um moldador de ferro, Clarice Cliff começou a trabalhar com 13 anos como aprendiz de “esmaltadora“. Com 17 anos ela filiou-se ao A. J. Wilkinson’s Royal Staffordshire Pottery como litogravurista, onde sua habilidade em desenho foi rapidamente notada. Ela participou das classes noturnas da Burslem School of Art de 1924-1925 e estudou escultura no Royal College of Art em 1927, mas retornou apenas alguns meses depois para montar um pequeno estúdio em Wilkinson’s Newport Pottery, decorando tradicionais cerâmicas brancas.

Agora, dá uma olhada nestas  fotos e perceba o que um artista pode fazer por uma mortal xícara, um pratinho ou um bule!

Os utilitários da ceramista são especiais também pela forma e quando a pintura chega, ah! que arraso!!

Quer saber mais sobre ela? Continue lendo e leia a coluna da Nina Horta  pra você saber o que Clarice Cliff tem a ver com o assunto do texto dela publicado dia 22 de julho.

Em 1927/1928 um teste de venda de 60 dúzias de peças de “Bizarre Ware” foi organizada por Colley Shorter. Os vendedores do Wilkinson ficaram chocados com a coragem extrema da Senhorita Cliff nos seus designs e ainda mais impressionados pela rapidez com quem foram vendidas. Handpainted Bizarre (Pintados a mão Bizarre), o nome escolhido por Colley Shorter, a diretora operacional do Wilkinson, para cobrir toda a linha, foi lançado. Em 1930 ela foi escolhida Diretora de Arte da empresa e em 1940, após a morte da primeira mulher de Colley Shorter, ela se casou com ele.

O entusiasmo que apresentou Bizarre (a coleção) gerou um surto de atividade criativa. Em 1931 a Senhorita Cliff estava supervisionando uma força de trabalho de até 1000 pessoas no Newport Pottery (Cerâmica de Newport), com 150 garotos e garotas treinados na arte decorativa, produzindo novos e modernos formatos e desenhos.

Entre 1932 e 1934 a Senhorita Cliff se envolveu em uma histórica mas curta tentativa de combinar as forças das indústrias de cerâmica e de vidro e artistas contemporâneos. Thomas Acland Fennemore, Diretor de Arte da E. Brain & Company, Foley China, junto com o artista Graham Sutherland e do designer Milner Gray, convidou artistas de sucesso da época (incluindo eles) para contribuir com designs  para serem feitos em osso  por Foley e em cerâmica por Wilkinson. A senhorita Cliff teve dúvidas e insistiu em estender a lista para incluir outros artistas com um apelo mais popular, como Laura Knight e Grank Brangwyn. Embora a maioria dos artistas somente decorassem os espaços vazios, que lhes era dado, Laura Knight foi capaz de criar seus próprios formatos, conhecidos como Circus. Os designs completos viajaram pelo país, sendo mostrado pela primeira vez na Harrods Exhibition de 1934.

Durante a década de 30, e refletindo a mudança nos gostos, os padrões e formas produzidos por Wilkinson eram de diversos tipos, e em 1936/1936 o nome  Bizarre foi descartado; peças então foram marcadas Clarice Cliff. Com o estouro da guerra em 1939, as saídas criativas da fábrica foram interrompidas, com grande parte dos trabalhadores sendo chamados pelas forças armadas.

As restrições do período de guerra na  cerâmica decorativa continuaram até os anos 50 e a fábrica nunca mais produziu cerâmica no estilo ou quantidade da época anterior a guerra. Muito do trabalho de design foi passado para outras mãos, com Clarice e Colley gastando menos tempo na fábrica e mais tempo viajando e promovendo as peças de A. J. Wilkinson.

Em 1961, Colley ficou doente e morreu em 1963. Clarice Cliff decidiu que tinha chegado a hora de se aposentar e as propriedades da fábrica foram vendidas em Agosto de 1964 para Midwinter, encerrando assim a produção de todas as peças originais de Clarice Cliff. Com a fábrica vendida, não houve nenhum sucessor para Clarice Cliff e a produção da original Clarice Cliff acabou.

W. R. Midwinter se fundiu com Meakins em 1968, que foi então absorbida pelo Wedgwood grupo em 1970. Os locais das fábricas agora foram redesenhadas para moradias.

Em 1971, Clarice Cliff foi reconhecida como uma designer mestre em art deco pelo Minneapolis Institute of Arts, com um grande número de suas peças incluídas na influente exposição deles World of Art Deco Exhibition. Com o aumento no interesse em suas obras pré-guerra, no final de 1971, Senhorita Cliff foi convencida em escrever suas próprias memórias. Tristemente a idade começou a afetar sua memória e um pouco da informação que ela escreveu é agora sabido por nós como sendo imprecisa.

Em Outubro de 1972, Senhorita Cliff morreu em Chetwyn House, sua casa desde 1940. Ela foi encontrada pelo seu jardineiro sentada em sua cadeira favorita ouvindo o rádio.




A sedução pelo côncavo

Nina Horta


Só Freud pode explicar. Que nos mostrem uma tigela, um prato fundo e, pronto, estamos fisgadas


AS FEMINISTAS jogaram os sutiãs fora. Não foi difícil. Com eles, foram os tricôs, os bordados, a pia, o fogão. E o ferro de passar roupa. O ferro de passar roupa foi uma delícia de jogar. Infelizmente, algumas mulheres completamente sem sutiã não conseguiram se livrar de toda a tralha e continuaram apaixonadas por várias coisas que agridem o feminismo clássico. Algumas, com gene de colecionador, continuaram com manias de louças, de vidros, por exemplo. Quando um design ou época as pega pelo gasnete, são capazes de vender a mãe sem piscar. São mulheres que não ligam a mínima para o dinheiro em si, mas para a louça que ele pode comprar. Foram-se o sutiã, a casa, o jardim, o tanque. O carro virou um monumento “vintage”. Tudo por causa da mania de cumbucas. Há sempre que ter mais uma. De repente, há um mês, mais ou menos, alguém me disse que nunca tinha visto os “bowls” de “café au lait” franceses. Fui mostrar o que eram. E estavam lá, à venda, empilhados uns sobre os outros. Foi ver e pensar: eu quero. Heidi tomava café da manhã com seu avô nessas cumbucas. Quer maior motivo para a cobiça? E o pior é que não tomamos café com leite aqui em casa. Mas servem para uma sopa de morangos, um caldo, servem para tudo. Acontece que só Freud pode explicar. Que nos mostrem uma compoteira, uma tigela, um prato fundo e, pronto, estamos fisgadas. Se nos perguntarem qual o melhor lugar para comer feijoada, por exemplo, vamos dizer: prato fundo e colher. A sedução pelo côncavo, uma tese a ser pesquisada. Quando terá isto começado? Ora, claro que já sei, nas idas ao centro da cidade com as mães, correndo por todas as lojas de louças enquanto mudávamos de um pé para outro, impacientes, de olho no cachorro-quente das Lojas Americanas ou na coalhada da Campo Belo. E ainda havia os bibelôs. Bibelô era um enfeitezinho, uma dançarina de louça, um cachorro em miniatura. Acabaram-se eles ou só a palavra? Um amigo divorciou-se e andava feliz pela vida. Perguntamos o porquê de tanto alívio, afinal tinha uma mulher sensacional. “Objetos”, sussurrava ele com certo medo de ainda ser atacado. “Objetos; minha casa não tem mais um objeto que seja.” Já viram a louça de Clarice Cliff? Para fazerem uma ideia, uma vez, em Londres, com minha filha, fomos visitar um museu e a sala dela estava fechada. Ao Encarregado! O encarregado em Londres é sempre um inglês alto, fino, cabelos grisalhos, de terno e sorriso irônico que, ao saber das duas malucas vindas do Brasil, foi ele mesmo, de chave, abrir as portas. Nem todo mundo gosta de Clarice Cliff. Começou a fazer sucesso de verdade pintando para umas fábricas inglesas em 1921. Teve a ideia de revolucionar a louça fazendo as pinturas em art déco com cores alegres, alaranjadas, verdes, as flores escorrendo para fora dos bules. Ou pintadas só pela metade, ou qualquer coisa. Era uma artista de verdade. Tudo tão inusitado que suas coleções neste estilo chamavam-se “Bizarre”, mas nunca deixaram de vender, e muito, apesar da bizarrice tanto da própria pintura como do formato dos objetos. Já cheguei à conclusão que, se acontecer um ataque do vírus das louças, pare. Compre um livro sobre o objeto amado. Aquilo vai se tornando um estudo, o período, as cores, o jeito de pintar, as comparações. Não vai ser preciso comprar nada, satisfazemos nossos impulsos primários e, sem sutiã, continuamos tomando “café au lait” nas canecas de sempre.

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