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Sobre o começo do ano e o final do mundo Sun&Sea

No primeiro dia do ano, lembrei da performance “Sun & Sea”, que tive o privilégio de assistir em 2019. Criada por três lituanas – Lina Lapelyte, Vaiva Grainyte e Rugile Barzdziukaite – e vencedora do Leão de Ouro na Bienal de Veneza.

A performance combina ópera, cantores e figurantes em um espaço transformado em praia, onde as pessoas tomam sol, conversam, falam ao celular e brincam com o cachorro. Ela aborda um tema cada vez mais urgente: o aquecimento global e como reagimos às notícias das calamidades cada vez mais presentes.

Me fez pensar como nós vivemos e por que o início de cada ano nos traz esperanças que não se concretizam.

Daqui pra frente tudo vai ser diferente, acreditamos nisso no dia primeiro de Janeiro.

E por que com o passar dos dias nada muda e vamos aceitando fazer tudo igual esperando ter um resultado diferente?

Será que estamos vivendo como nessa performance?

Vazios e conversando sobre o nada enquanto catástrofes não só no mundo, mas na nossa própria vida são iminentes e nós, estamos tomando sol na praia, rodeados de resíduos plásticos, indiferentes e com preguiça de fazer qualquer coisa efetiva pra mudar?

Será que não é tempo de vivermos cada dia como se fosse um dia de Ano Novo e colocarmos em prática ações para que as esperanças se concretizem?

Afinal, o calor do final do mundo se anuncia, mas será que não podemos criar sombras pra refrescar e evitar?

Vamos parar de adiar para o dia primeiro de janeiro as esperanças de viver melhor?

Amanhã, dia 2 de janeiro, também é um dia para acreditar e agir. E depois de amanhã também, e depois, e depois.

No link abaixo um trechinho do vídeo que eu fiz da performance

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Texto, vídeo e fotos abaixo retirados do site A luta contra o aquecimento global morreu na praia e valeu ouro à Lituânia

Em vez de optar pelo tom de alarme, as artistas lituanas, uma directora de teatro, uma dramaturga e uma compositora, optaram pela abordagem romântica das coisas e trouxeram para a reflexão o nada; enquanto estão praia improvisada, os performers são convidados a cantar músicas do seu dia-a-dia e é esse contraste entre a banalidade das queixas contidas nas músicas e a indiferença representada por cada corpo deitado no areal que dá densidade à reflexão. Em entrevista à revista de arte artnet, uma das artistas, Vaiva Grainyte, explica que a sua peça é sobre o Antropoceno e a crise ecológica, lembrando que as crises mundiais se desenrolam “facilmente, suavemente, como uma música de pop contemporânea”.

Como sugere a reflexão da artnet, é bem provável que seja assim o desfecho da Humanidade; não com um estrondo explosivo que nos tolha a todos, mas com uma preguiça e uma auto-resignação que nos torne indiferentes às maiores calamidades e nos faça simplesmente ir curtir para a praia mesmo que seja o calor do momento final.

Texto site da Bienal de Veneza

Sun & Sea (Marina). Opera-performance for 13 voices. Imagine a beach – you within this image, or better: watching from above – the burning sun, sunscreen, and bright bathing suits and sweaty palms and legs. Tired limbs sprawled lazily across a mosaic of towels. Imagine the occasional squeal of children, laughter, the sound of an ice cream van in the distance. The musical rhythm of waves on the surf, a soothing sound (on this particular beach, not elsewhere). The crinkling of plastic bags whirling in the air, their silent floating, jellyfish-like, below the waterline. The rumble of a volcano, or of an airplane, or a speedboat. Then a chorus of songs: everyday songs, songs of worry and of boredom, songs of almost nothing. And below them: the slow creaking of an exhausted Earth, a gasp.

Sol & Mar (Marina). Ópera-performance para 13 vozes.

Imagine uma praia – você dentro dessa imagem, ou melhor: observando de cima – o sol ardente, protetor solar e trajes de banho brilhantes e palmas e pernas suadas. Membros cansados espalhados preguiçosamente em um mosaico de toalhas. Imagine o grito ocasional de crianças, risadas, o som de um carrinho de sorvete ao longe. O ritmo musical das ondas na praia, um som calmante (nesta praia em particular, não em outro lugar). O farfalhar de sacolas plásticas girando no ar, flutuando silenciosamente, como águas-vivas, abaixo da linha d’água. O estrondo de um vulcão, ou de um avião, ou de uma lancha. Então um coro de canções: canções do dia a dia, canções de preocupação e de tédio, canções de quase nada. E abaixo delas: o lento ranger de uma Terra exausta, um suspiro

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