Com quem você faz par nesta vida?

Assiste este clip da Adriana Calcanhoto e pensa:
Com quem você faz par nesta vida?

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E lembra de que não é só par romântico.
Contamos as horas pra ver nossos filhos, nossas flores, nossos livros, nossas pinturas, nossos amigos,nossos roteiros de viagem, algo preenche nossa vida: é o nosso par.

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Faz uma pausa e lê este discurso de Saramago

Discurso na Academia Sueca
(ao receber o Prêmio Nobel de Literatura)

José Saramago

O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. As quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia. Azinhaga de seu nome, na província do Ribatejo.

Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses avós, e eram analfabetos um e outro. No Inverno, quando o frio da noite apertava ao ponto de a água dos cântaros gelar dentro da casa, iam buscar às pocilgas os bácoros mais débeis e levavam-nos para a sua cama. Debaixo das mantas grosseiras, o calor dos humanos livrava os animaizinhos do enregelamento e salvava-os de uma morte certa. Ainda que fossem gente de bom caráter, não era por primores de alma compassiva que os dois velhos assim procediam: o que os preocupava, sem sentimentalismos nem retóricas, era proteger o seu ganha-pão, com a naturalidade de quem, para manter a vida, não aprendeu a pensar mais do que o indispensável.

Ajudei muitas vezes este meu avô Jerónimo nas suas andanças de pastor, cavei muitas vezes a terra do quintal anexo à casa e cortei lenha para o lume, muitas vezes, dando voltas e voltas à grande roda de ferro que acionava a bomba, fiz subir a água do poço comunitário e a transportei ao ombro, muitas vezes, às escondidas dos guardas das searas, fui com a minha avó, também pela madrugada, munidos de ancinho, panal e corda, a recolher nos restolhos a palha solta que depois haveria de servir para a cama do gado. E algumas vezes, em noites quentes de Verão, depois da ceia, meu avô me disse: “José, hoje vamos dormir os dois debaixo da figueira”. Havia outras duas figueiras, mas aquela, certamente por ser a maior, por ser a mais antiga, por ser a de sempre, era, para toda as pessoas da casa, a figueira.

Mais ou menos por antonomásia, palavra erudita que só muitos anos depois viria a conhecer e a saber o que significava… No meio da paz noturna, entre os ramos altos da árvore, uma estrela aparecia-me, e depois, lentamente, escondia-se por trás de uma folha, e, olhando eu noutra direção, tal como um rio correndo em silêncio pelo céu côncavo, surgia a claridade opalescente da Via Láctea, o Caminho de Santiago, como ainda lhe chamávamos na aldeia. Enquanto o sono não chegava, a noite povoava-se com as histórias e os casos que o meu avô ia contando: lendas, aparições, assombros, episódios singulares, mortes antigas, zaragatas de pau e pedra, palavras de antepassados, um incansável rumor de memórias que me mantinha desperto, ao mesmo tempo que suavemente me acalentava. Nunca pude saber se ele se calava quando se apercebia de que eu tinha adormecido, ou se continuava a falar para não deixar em meio a resposta à pergunta que invariavelmente lhe fazia nas pausas mais demoradas que ele calculadamente metia no relato: “E depois?”. Talvez repetisse as histórias para si próprio, quer fosse para não as esquecer, quer fosse para as enriquecer com peripécias novas.

Naquela idade minha e naquele tempo de nós todos, nem será preciso dizer que eu imaginava que o meu avô Jerónimo era senhor de toda a ciência do mundo. Quando, à primeira luz da manhã, o canto dos pássaros me despertava, ele já não estava ali, tinha saído para o campo com os seus animais, deixando-me a dormir. Então levantava-me, dobrava a manta e, descalço (na aldeia andei sempre descalço até aos 14 anos), ainda com palhas agarradas ao cabelo, passava da parte cultivada do quintal para a outra onde se encontravam as pocilgas, ao lado da casa. Minha avó, já a pé antes do meu avô, punha-me na frente uma grande tigela de café com pedaços de pão e perguntava-me se tinha dormido bem. Se eu lhe contava algum mau sonho nascido das histórias do avô, ela sempre me tranqüilizava: “Não faças caso, em sonhos não há firmeza”.

Pensava então que a minha avó, embora fosse também uma mulher muito sábia, não alcançava as alturas do meu avô, esse que, deitado debaixo da figueira, tendo ao lado o neto José, era capaz de pôr o universo em movimento apenas com duas palavras. Foi só muitos anos depois, quando o meu avô já se tinha ido deste mundo e eu era um homem feito, que vim a compreender que a avó, afinal, também acreditava em sonhos. Outra coisa não poderia significar que, estando ela sentada, uma noite, à porta da sua pobre casa, onde então vivia sozinha, a olhar as estrelas maiores e menores por cima da sua cabeça, tivesse dito estas palavras: “O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer”. Não disse medo de morrer, disse pena de morrer, como se a vida de pesado e contínuo trabalho que tinha sido a sua estivesse, naquele momento quase final, a receber a graça de uma suprema e derradeira despedida, a consolação da beleza revelada. Estava sentada à porta de uma casa como não creio que tenha havido alguma outra no mundo porque nela viveu gente capaz de dormir com porcos como se fossem os seus próprios filhos, gente que tinha pena de ir-se da vida só porque o mundo era bonito, gente, e este foi o meu avô Jerónimo, pastor e contador de histórias, que, ao pressentir que a morte o vinha buscar, foi despedir-se das árvores do seu quintal, uma por uma, abraçando-se a elas e chorando porque sabia que não as tornaria a ver.

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” Este mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer”.

Morreu Saramago. Dia 18 de junho de 2010.
José Saramago, primeiro e único escritor de língua portuguesa que ganhou um prêmio Nobel de literatura. Filho e neto de analfabetos, formado em escola técnica, começou a ficar conhecido com mais de 40 anos; com 60 casou-se com Pilar, 30 anos mais jovem, com quem viveu até hoje.

Escolhi algumas frases dele que gosto muito e uma, a primeira, de sua avó.

” Este mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer”.

“Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”.

“Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia”.

“Se podes olhar vê, se podes ver, repara.”

“O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas”.

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Matisse e suas padronagens inspiradoras

A semana da moda aconteceu em São Paulo do dia 08 a 14 de junho.
Pensei em Henri Matisse, artista plástico francês e as “padronagens” de suas pinturas, porque ele tem inspirado tanto artistas visuais quanto estilistas  que usam suas obras como referências para suas criações.
Beatriz Milhazes em suas entrevistas diz que ele é uma de suas influências e Isabela Capeto, inspirada em suas obras, desenvolveu toda uma coleção em 2005.

Estes trabalhos estão no Museu L’ Orangerie em Paris.

Le Nu Rose

Odalisque à la culotte grise (1927)

Odalisque à la culotte rouge (1924-1925)

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O amor é lindo!

Beijo e carinho, tem melhor presente?!
Feliz dia dos namorados!!

O Beijo – Gustav Klimt, 1907-8

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A casa da árvore na Casa Cor

Esta casa é literalmente a casa da árvore.
Ela foi construída em volta de uma árvore, que é a estrela do espaço.
Todo o ambiente criado está em harmonia com a personagem central.

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Casa Cor – tempo de ser criança

Quem visitou a Casa Cor  nos dois últimos anos conheceu o projeto Casa Kids dentro da Casa Cor.
São espaços projetados com foco nas preferências e necessidades das crianças. E são lindos!!
Olha esta casa de vidro: um sonho!!


Estar num lugar tão especial quanto o Jockey Club de São Paulo só contribui para a beleza deste projeto.

A coleção de bonecas,

e de ursinhos.

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Polyvore – você conhece?

Há um ano conheci um site chamado Polyvore.
É uma rede social totalmente relacionada à moda para um público interessado neste segmento: um mercado poderoso.
Ali você encontra várias marcas de roupas, sapatos, acessórios, fotos, papéis de parede, artigos de decoração e mais e mais e mais…
Cria milhões de looks, coleções, arte, expressões, decorações, faz, desfaz, publica e compartilha.
Quando conheci, quebrei o mouse do meu computador de tanto clicar e arrastar imagens; quase como brincar de boneca ou preparar uma arte final recortando e colando os elementos.
Alguém deve estar pensando que não tenho o que fazer: tenho e muito!!
Mas este site é uma terapia, quando entro não penso em nada,  só no que vou inventar, nas combinações, nos looks, na parte visual.
Uma delícia!!
Imagina como deve ser também uma delícia para as marcas que estão ali e são vistas por muitas e muitas pessoas de uma forma totalmente lúdica e agradável.
Marcando pontos no quesito fixação de imagem, sem falar que todo produto tem um  link para o site da marca possibilitando a compra pelo usuário.

Em tempo: conheci uma versão brasileira http://www.bymk.com.br/

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Guiados pelo rótulo?

Num encontro com o jornalista e crítico de arte  Oscar D’Ambrósio lembramos deste texto escrito por ele e que vale muito uma reflexão, pois cabe em vários aspectos de nossa vida. Logo pensei em compartilhar aqui no blog.

Entre ratos, homens e críticos

Discutir a crítica de arte hoje constitui um desafio, já que nem o público, nem os artistas nem os próprios críticos acreditam que ela exista de fato no Brasil contemporâneo. Para desenvolver essa idéia, vamos nos valer de três auxílios: o filme Ratatouille(2007), de Brad Bird, a experiência do premiado violinista norte-americano Joshua Bell tocando incógnito no metrô de Washington, DC, EUA, e dez caminhos para o crítico do século XXI.

No filme Ratatouille, o protagonista é um rato que, com um olfato privilegiado, sonha em ser um chefe de cozinha. Quem rouba a cena, no entanto, não é o simpático protagonista, mas o personagem Anton Ego, um rigoroso crítico de gastronomia. Seu sobrenome já mostra a sua personalidade.
Ensimesmado, repleto de caras e bocas, degusta criticamente os mais variados pratos. Temido por todos, só consegue rever seus rígidos conceitos e valores ao experimentar uma receita de um prato camponês, o ratatouille, desenvolvido pelo rato – cozinheiro.
Ao sentir aquele sabor, retorna à infância e encontra na simplicidade uma forma de repensar a sua atitude perante a vida, o que inclui a recuperação da capacidade de rir.

Esse mesmo atributo de rir de si mesmo foi desenvolvido pelo violinista Joshua Bell, um dos maiores do mundo.
Ele participou, dia 12 de janeiro último, de uma experiência idealizada pelo jornal Washington Post. Usando boné, calça jeans e camiseta, tocou, durante 43 minutos, um repertório que incluía Bach, entre outros compositores. Das 1.097 pessoas que passaram à frente dele, apenas 27 deixaram dinheiro, num total de US$ 32,00, absurdamente abaixo do cachê dele, cerca de US$ 1 mil por minuto de apresentação.
Se as pessoas soubessem que aquele músico era famoso provavelmente parariam para olhar e, se ele estivesse sendo fotografado ou filmado por câmaras de televisão, certamente lhe dariam mais atenção. Em síntese, o público é cada vez mais levado pelas aparências, pelo rótulo que lê e ouve na mídia, e menos pela sua sensibilidade, pelo que, de fato, ouviu, leu ou escutou.

Porém, se um crítico de alguma instituição reconhecida, dá legitimidade a uma obra de arte, ela geralmente começa a ser aclamado por todos, que macaqueiam as palavras da “voz oficial” detentora do poder que a crítica institucionalizada, principalmente a oriunda das universidades, hoje representa. A voz do crítico, assim, se torna maior do que o ouvido ou a visão do observador.

Nesse contexto, sugiro um decálogo do crítico de arte:

1. Abolir a divisão entre arte e ciência – Ao contrário do nosso mundo marcado por especialistas em especialidades, é desejável, como ocorria no Renascimento, a busca do saber nas mais variadas áreas, não havendo sentido na divisão entre arte e ciência.
2. Acreditar no poder do homem – Ao contrário do homem medieval, que idolatrava Deus, e do tecnológico, que acredita na técnica em si mesma, é essencial valorizar o poder humano de criar, conservar e destruir o mundo e o que nele existe.
3. Tratar a arte como sopro de vida – Além da técnica, ou seja, do saber fazer, o artista a ser valorizado precisa ter vida. Isso significa estar além do virtuosismo, aliando a alma ao talento.
4. Ter contato com os mestres – Seguir um mestre, tanto para o crítico como para o artista, não é sinônimo de perda de liberdade, mas de constituição de uma base sólida para poder voar sozinho.
5. Respeitar quem trabalha por encomenda – O crítico não deve rejeitar em princípio o artista que aceita trabalhar para o mercado. Aceitá-las constitui uma forma de sobrevivência, desde que feita com honestidade intelectual e competência.
6. Planejar é tão importante quanto fazer – Torna-se fundamental acompanhar o trabalho no ateliê do artista. É ali que estão os muitos estudos e esboços – mentais ou concretos –, memórias dos trabalhos passados e matrizes dos presentes e futuros.
7. Observar os cadernos de anotações – Para conhecer um artista, uma das melhores pistas é justamente o caderno de anotações e os desenhos. Lá está a alma que fala e o gesto que comunica uma essência perante a arte e a vida.
8. Devotar-se ao detalhe – O notório saber é deixado de lado em função da mesmice decorada com títulos e quantificações de produção sem uma avaliação qualitativa adequada, que exige devoção à observação plástica dos detalhes.
9. Amar a invenção – Lembrar que o artista digno desse nome mantém viva a capacidade de estar sempre em mutação, combatendo a acomodação, principalmente quando a escola mais formata indivíduos do que os prepara para a vida.
10. Criatividade acima de tudo – Cabe ao crítico perceber o artista enquanto ele não é célebre. Isso exige a humildade de saber reconhecer o grande talento enquanto ainda ele é aparentemente pequeno.

O que é necessário são críticos humanos, capazes de ver na arte uma forma de transcender o cotidiano, não no sentido místico – ou talvez inclusive nele –, mas principalmente no estético e, acima de tudo, existencial. Isso exige humildade, atitude cada vez mais rara no mundo, inclusive – e principalmente – o da crítica.

Oscar D’Ambrosio, jornalista, mestre em Artes pelo Instituto de Artes da UNESP de São Paulo, integra a Associação Internacional de Críticos de Artes (Aica – Seção Brasil)

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Casa Cor – parte I

Todo ano participo da Casa Cor e vou muitas vezes no período em que estamos com a Exposição. Quando acaba fico com a sensação que não visitei como gostaria.
Este ano decidi que será diferente, vou olhar cada dia alguns ambientes com calma e fotografar o que mais chamar minha atenção.
Coloquei a resolução em prática e comecei.
Nesta primeira parte meu olhar se voltou para os objetos: luminárias, esculturas e até escovinhas na lavandeira.

Luminárias da Scatto

Escultura colocada na fonte em frente a entrada da Casa Cor.

Duas escovas - uma loirinha, uma morena, o suporte é o corpinho, uma graça.

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